Por Mário Pires
Depois de um passeio de jangada com a esposa e o
filho, um grande empresário contava as notas para pagar o jangadeiro, quando
foi surpreendido com uma pergunta: “o senhor não deve ser feliz não é?”. Sem
compreender o motivo de tal indagação, mesmo assim ele respondeu: - Claro que
sou feliz! Sou um grande empresário, tenho carro importado, dinheiro no banco,
sou reconhecido entre a sociedade, tenho um filho e uma esposa bonita, posso ir
pra onde eu quiser e fazer o que quiser. Por isso me considero feliz. Respondeu.
- Mas por que o senhor acha isso? Perguntou o empresário.
Contando o dinheiro do pagamento que acabara de
receber o jangadeiro começou a respondê-lo: - O senhor pode ter dinheiro, mas
não tem o mais importante na vida. – O que, por exemplo? Questionou mais uma
vez o empresário.
- Bem, vou explicar. Eu não tenho o dinheiro que o
senhor tem, mas sei que sou feliz. Não preciso pagar para desfrutar da
natureza. Moro de frente para o mar e com uma imensa área verde ao meu redor. Sua
mulher pode ser bonita, mas durante o percurso vocês pouco se falaram. Ela prestava
mais atenção no que veste e nos cabelos do que no senhor. Nem te trata com
carinho e só vive ligada no celular. Minha mulher pode não usar a mesma roupa
ou ir ao mesmo salão, mas todas as vezes que chego em casa ela me chama de “meu
amor” ou de “meu bem”. Não podemos comer as comidas mais chiques, mas tudo que
ela faz pra mim, faz com carinho e dedicação. A gente sempre se abraça e
trocamos carinhos. Quando a noite chega, costumamos contemplar a lua na beira
da praia e ficamos a namorar, demonstrando assim nosso verdadeiro sentimento. O
olhar dela me diz muito mais do que muitas palavras. Explicava o jangadeiro.
Enquanto a família se distanciava o empresário
prestava atenção nas palavras do jangadeiro, que continuava: - Não tenho carro
importado, nem carro do ano. Ando de jangada. Mas o senhor mesmo acabou de me
pagar para ir aos lugares mais lindos que temos aqui. E a sociedade, essa só te “reconhece” pelo
dinheiro que o senhor tem. Mas sem o dinheiro, será que teria amigos de
verdade, como eu tenho aqui? Eles gostam de mim pelo que sou, e não pelo que eu
tenho.
Continuando, o jangadeiro olhou para o filho do
empresário e disse: - Eu também tenho um filho. E quando estamos juntos, costumamos
brincar e correr na praia. Ele gosta de nadar e pescar no mar e o ensino a
cuidar e respeitar a natureza. A gente também se diverte bastante com nosso cachorro.
Eu sempre digo o quanto o amo e ele me retribui todo seu amor. Quando o abraço
sou capaz de chorar de felicidade. Ele tem um sorriso lindo e é um dos maiores
presentes que Deus me deu. Enquanto o filho do senhor não brincou na praia, nem
no mar e mal te olhava. O refrigerante e o jogo no celular não deixou ele te dar
tanta atenção.
O empresário percebia que aquele rapaz de trajes
simples e de uma sabedoria que jamais ninguém se aproximara para ensinar-lhe, estava
mostrando-lhe, de uma maneira singular, os reais valores da vida e o deixou
terminar. - Não é o tanto de dinheiro que o senhor tem numa conta bancária, nem
a mulher mais bonita do mundo, ou o filho que não larga o computador que te faz
uma pessoa feliz. O dinheiro pode te dar prazer, mas se não tiver o amor e o
carinho de sua família, nunca haverá felicidade em sua vida. Não que o senhor
tenha que vir morar na beira da praia e se tornar um jangadeiro como eu para
ser feliz. Mas é dar e receber atenção, carinho e amor a quem está ao seu
redor. E senti que falta isso no senhor. Por isso disse que não devias ser
feliz.
Depois de ter escutado as palavras daquele jangadeiro,
o empresário reconheceu que tudo aquilo que ele havia dito fazia sentido na sua
vida. Na sua família não havia amor e carinho, apenas luxo e prazer. E naquele
instante, notou o quanto realmente era infeliz.
* * *
Esta é apenas uma estória. Mas a realidade que ela
trata, faz parte do cotidiano de muitas pessoas. Reflita sua vida e sejas mais
feliz.
5 comentários:
Lindo, amei, é realmente um exemplo a ser seguido. Hoje é isso mesmo que acontece na vida da maioria dos seres humanos, é uma pena!!!
Lendo a tua crônica, que é de uma sensibilidade fora do comum...
percebo que é por aí mesmo...é desse amor que devemos compartilhar.
Do olho no olho, do abraço apertado, da admiração...do carinho expressado
no fazer de uma comida...nas pequenas miudezas do cotidiano, é ali que o amor mora.
Não me ative muito na vida do empresário, pois prefiro esta simplicidade tão bem escrita por ti... é dentro dela que mora os melhores sentimentos e os pequenos
detalhes que fazem de nossa vida tão grandiosa!
Lindo dia prá ti!
Parabéns pelo belo texto.
Márcia
Bom dia Mário,
Que nós possamos compreender o verdadeiro valor do que temos e não se deixar ser conduzido pelas aparências.
Bjus
Carlene
Parabêns Mario Pires, adorei sua crônica. E mais uma vez, parabêns pela forma inteligente de saber usar as palavras.
Lindo texto. Emocionante e reflexivo. Grande lição. Gostaria de saber se posso publicar lá no blog , darei todos os créditos a vc, claro.
Um blog maravilhoso.
Beijos,
Selma
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